segunda-feira, 28 de junho de 2010

Walking Dead, a novela em quadrinhos

Antes de mais nada, acho que devo avisar:

É certo que esse post terá spoilers sobre a série The Walking Dead, da Image, então se você não leu ainda até a edição #35 e não quer estragar nenhuma surpresa, eu recomendo, eu peço, que só leiam esse post quando você acabarem essa edição.
Da mesma forma, só li até a edição #35 até o momento, então se algum fella duma rameira enviar um comentário com spoilers, eu vou fazer com você, passo-a-passo, o que a Micchone faz com o Governador na doentia edição #33. Colherzinha e tudo.
Estão avisados.



The Walking Dead é foda. Não tem outra palavra, é foda. E todo mundo com quem eu converso tem a mesma opinião. O que de certa forma me preocupa um pouco. Eu não sou fã de grandes sucessos ou grandes hits, meu senso de humor está longe de ser algo comum, vide o fato de que eu ri, e muito, quando Rick perdeu a mão. Haha, parece até que ele esqueceu onde pôs, não, quero dizer quando cortaram a mão dele.

Aliás, foi essa cena que me respondeu em parte a pergunta qe eu tinha. "Porque diabos essa série faz tanto sucesso? Porque é tão unânime o fato dessa série ser uma obra-prima? E mais, como Kirkman conseguiu isso com um série sobre zumbis?!"

Porra, primeiro que pra fazer sucesso com o tema "apocalipse zumbi", você logo de cara encontra um obstáculo, que é a concorrência. O tema já foi amplamente abordado e as pessoas já possuem seus ícones, logo de cara eu penso em George A. Romero, que é uma lenda e um especialista nos mortos-vivos.

Então comofas pra criar uma história de zumbis em que: a. Você não suma no meio da avalanche de outras obras do gênero?; b. Você não seja pego "colando" dos mestres na área pelos seus leitores?; e c. Você tenha história o suficiente para carregar seus leitores por edições e mais edições, crescendo seu contingente de fãs continuamente?

Uma das várias respostas eu li em Incognito, do Brubaer com Sean Phillips. "The secret ingredient is Pulp." Numa tradução muito, muito livre mesmo, e eu já estou vendo as críticas dos meus amigos tradutores chegarem, o segredo é novelizar.

Exatamente no sentido de criar uma novela. Em dois ângulos, primeiro pela serialização, ou capitulação. Tudo tem que transcorrer de forma a ser dividida em partes. Toda a história deve ser dada aos leitores à conta gotas para que eles sempre queiram mais. E segundo, nas relações entre as personagens. Essa segunda parte é um das mais importantes.

O desenvolvimento dos relacionamentos entre as personagens é um dos pontos-chave da série. Como Rick vê o Shane e como ele morre, como isso afeta o Carl e o julgamento da mãe, a gravidez indesejada e inesperada de Lori. As brigas do Rick com... porra, todas as outras personagens. Ele acaba por se irritar em certo ponto com todo mundo. E aí entra a questão, como que todos eles lidam e mudam com o fim do mundo como eles conhecem. Isso é muito importante para Kirkman e, imagino eu, seja uma das coisas que ele teve como objetivo nesse história. Quando ele pôe as personagens ao redor da fogueira do acampamento falando sobre a sua vida antiga e ele não economiza linhas quando se trata de alguém contar a história da sua vida. Dessa forma, nós podemos relacionar o que ele era, com o que ele é.

Outra grande atração, que aliás, nem digo que foi crédito do Kirkman, na verdade eu nem saberia apontar uma HQ específica que começou com isso, é o que eu chamo de cinematização nos quadrinhos.

Lá pelos anos 80 os quadrinhos começaram a ter aquelas pausas estratégicas para dar suspense. Acho eu que até por influência dos filmes de faroeste, eles tinham muito disso. São aquelas cenas em que parece que pára o mundo. 3, 4 quadros ineiros com a personagem paralisada, como se ela refletisse, como se o mundo estivesse imóvel. Em literatura a gente chama isso de stop-motion scene. A narração cessa qualquer descrição de ação e começa a focar nos arredores. As paredes, a rua, todos os detalhes. A cena parou, as pessoas pararam.

Kirkman faz muito isso. O que parece um contrasenso de início, pois o cara que não poupa palavras quando um cara vai dissertar sobre a biografia dele simplesmente corta a comunicação quando se trata de uma cena surpreendente. Quando o doutor Stevens vê o horror que o Governador faz com Rick, quando Lori se desespera pelos sumiços do marido, quando a filha do Tyreese tenta se matar com o namorado.



Talvez por isso, The Walking Dead mereça mais do que qualquer outra HQ o título de Graphic Novel. Pelo menos no Brasil, se traduzirmos ultra-literalmente, Novela Gráfica. É exatamente o que essa obra é. Engraçado isso, pois o único outro exemplo de algo assim na televisão brasileira que eu lembro é uma novela sobre mortos-vivos também, mas de um outro tipo. Vamp, de Antônio Calmon. Eu era muito novo e não lembro muito. Peguei uma das onze reprises que passaram n TV, em vários horários diferentes.

Eu cito Vamp por algumas cenas que me marcaram e eu nunca esqueci, mesmo tendo visto tão novo. Cenas que se comparam muito com as cenas de TWD. O garotinho nerd de óculos jogando xadrez com o vampiro interpretado por Ney Latorraca, que por acaso se chamava Vlad. Os dois ali decidiam a vida de seus vários peõs, de cada lado da guerra. Tudo isso é claro numa óbvia referência a The Seventh Seal de 1957 que faz um alegoria do homem procurando pelo sentido da vida. Um tema bem... controverso, talvez? Escroto? Cada um com a sua opinião. Mas o ponto é, o cavaleiro das cruzadas acaba jogando xadrez com a morte durante a sua busca. Adivinha quem era quem na novela.

Voltando ao assunto, Walking Dead possui todas essas característas que o fazem o melhor de vários mundos. As pausas de cena, as personagens intrigantes e aqueles momentos que fazem você querer discutir com os amigos o que será que vai acontecer depois. E você fica preso nas páginas querendo saber, o que vem agora? Que tipo de merda que o mundo vai jogar naquele grupo agora? Sim, talvez um pouco de sadismo por parte do leitor seja necessária. O mesmo sadismo que faz com que tanta gente se interesse por reality shows faz com que nós queiramos ver a vida desgraçada daquelas pessoas, e se for isso, kudos para Kirkman por ter criado uma obra com personagens tão vivos. Eles saltam das páginas e nos fazem pensar, como eu mudaria na mesma situação? O que eu faria na pele dele?

O que você faria?

4 comentários:

  1. Gato, corrigi uns errinhos de digitação... o foda foi que eu nunca tinha lido a Graphic... agora eu já sei o que acontece e vou ter que ler.... -_-

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  2. Vai ter que ler sim.

    Eu já cheguei na #56 hoje, pqp! Mt bom. Uma das melhores Hqs que eu já li.

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  3. eu parei de ler, nem sei em que edição, mas tô longe de levar spoilers... não sei se vocês leram mais alguma coisa do Kirkman. eu li, e digo, esse cara é MA-LU-CO. devia ser crime alguém ter tanto talento.

    mas, muitíssimo bem notado esse detalhe das cenas chocantes mais lentas, tinha me passado desapercebido.

    (além de ser MUITO FODA, th walking dead me inspirou a mestrar uma campanha lendária de zumbis)

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  4. Vixe,eu já acabei de ler, até a #73 onde parou. Agoa a 74 só em fulho. =/

    Eu to procurando algumas coisas do Kirkman pra ler. Alguma recomendação?

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